Soteropolitana publicou 10 obras e aparece entre mais lidas da Amazon.
Camacaense de 32 anos conquistou prêmio de melhor blog erótico.
A escritora soteropolitana Tatiana Amaral e a blogueira camacaense Lu Rosário não se conhecem pessoalmente, mas partilham de uma mesma opinião quando o assunto é escrever sobre sexo nos dias atuais: a atividade ainda é um grande desafio. Enquanto uma figura entre os autores mais lidos do segmento erótico na companhia americana de varejo online Amazon, a outra recebeu o título de melhor blog do ramo erótico em premiação realizada pela Associação Brasileira do Mercado Erótico e Sensual (Abeme), no início de novembro, em São Paulo. Para elas, o grande obstáculo a ser vencido pelas mulheres que se propõem a falar sobre sexo é a discriminação.
"No Brasil, ainda há discriminação com a literatura erótica. O erotismo ainda não é aceito por muitos na área da literatura, ainda não é visto como algo sério. Nós mulheres que escrevemos sobre isso sofremos um pouco de discriminação de todos os lados. As próprias mulheres ainda não se aceitam dessa forma, em falar sobre isso. Então, temos que lidar com tudo isso, mas sabemos que hoje o erotismo é o que vende", destaca Tatiana, que abandonou a carreira de administradora para dedicar a vida a escrever romances eróticos.
Tatiana começou a escrever profissionalmente há cinco anos e já tem 10 livros publicados. A autora conta que, no início, ficou com receio em divulgar o que escrevia sobre sexo. "Não sabia qual seria a reação das pessoas. Então, escrevia e deixava escondido. Guardei uma vez 40 capítulos de um livro e só publiquei depois que alguns amigos leram e disseram que estava ótimo. Mas postei com medo que ia dar. Hoje, existe discriminação, mas não me importo tanto quanto antes. Além disso, quando eu comecei, as editoras não queriam publicar livros eróticos e agora todo mundo só quer erótico, porque vende", conta a escritora. Um dos seus livros é "A descoberta do Prazer", que aparece entre os mais lidos do ramo erótico na Amazon.
A discriminação é um desafio que, infelizmente, ainda precisa ser encarado pelas mulheres que decidem falar sobre sexualidade. A gente deve fazer isso mudar"
Lu Rosário, blogueira
A blogueira Lu Rosário, ao contrário de Tatiana, ainda não ganha a vida como escritora, mas já planeja se profissionalizar após o prêmio que ganhou pela idealização do blog "Pudor Nenhum", criado em 2011. Formada em Letras e atualmente estudante do último semestre de jornalismo, ela é natural de Camacan, no sul da Bahia, mas mora em Vitória da Conquista, no sudoeste do estado, desde 1998.
"Durante o curso de Letras, desenvolvi uma pesquisa sobre sexualidade e isso me deu aparato para criar o blog. O gosto por sexualidade é algo natural, que nem sei explicar. Gosto de escrever e de falar de qualquer coisa que esteja relacionada ao assunto. Para as mulheres, isso ainda é um tabu. As pessoas ainda me olham de um jeito diferente pelo fato de eu falar sobre sexo, me julgam bastante. Além disso, há uma grande quantidade de assédio nas redes sociais com relação a mim, mas me mantenho séria. Ganhar o prêmio foi uma surpresa muito grande. Nem imaginava que fosse ser indicada ao prêmio. Agora, quero começar a fazer parcerias, buscar patrocínio para continuar fazendo o que gosto ", conta
No blog, Lu dá indicações de livros, filmes e publica resenhas de produtos eróticos. Ela afirma que faz publicações para pessoas a partir dos 21 anos, mas ressalta que não há conteúdo pornográfico. Ela conta que, antes de ganhar o prêmio, fazia de duas a três posts por semana, mas agora atualiza o blog todos os dias. A indicação para o prêmio foi feita pelos próprios leitores, numa votação aberta na internet. O blog, o único representante da Bahia, venceu no juri técnico em qualidade, narrativa e conteúdo. O prêmio reconhece o trabalho de empresas e pessoas que atuam no mercado erótico, que, conforme a Abeme, tem previsão de fechar 2016 com crescimento de 3%, mesmo com a crise econômica do país.
"Escrevo sobre assuntos relacionados a sexo, tabus, fetiches, curiosidades, sobre tudo que eu acredito que esteja dentro do alcance da sexualidade, e por isso o nome do blog é Pudor Nenhum. Não há nada explícito, a linguagem é bem trabalhada. O blog é voltado para educação sexual, não vejo problema nenhum no fato de ele estar aberto. Não há nada de pornográfico: nem linguagem e nem imagens. Todo mundo adora: casados, solteiros, gays, trans e até mesmo evangélicos. O público feminino é maior, mas os homens também acessam. As pessoas interagem comigo por meio das redes sociais e muitas dão sugestões de publicação. Quando não publico com base naquilo que sugere, tenho como inspiração conversas que ouço, cenas que vejo no dia a dia ou alguma coisa que me faça ter vontade de escrever", conta Lu.
Apesar dos desafios, as baianas afirmam que pretendem continuar falando sobre erotismo tambpem como forma de desmistificar o assunto.
"Quando comecei, as pessoas diziam que isso acabaria rápido, que erotismo era modismo, mas o erotismo, na verdade, quando tem uma história por trás, se torna completo. Minha família me apoiou desde o início. Somente o meu marido não acreditava no início que isso pudesse ser uma profissão, mas hoje ele é meu apoio. Os livros têm teor sexual, mas passam longe da pornografia. Por isso, escrevo para todo mundo, sem limite de idade. A inspiração vem de qualquer coisa, as vezes uma música, uma coversa ou mesmo do nada surge uma milhão de ideias. Antes, ninguém falava de sexo, parecia algo proibido. O romance erótico chegou para ficar", afirma Tatiana.
"A discriminação é um desafio que infelizmente ainda precisa ser encarado pelas mulheres que decidem falar sobre sexualidade. A gente deve fazer isso mudar", completa Lu.
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