'Paterson' exalta rotina e revela face doce de vilão mascarado de 'Star wars'
Adam Driver é motorista e poeta em filme de Jim Jarmusch; G1 já viu.
Após encarnar Kylo Ren, ator mostra beleza extraordinária da vida comum.
Paterson, o motorista de ônibus do filme homônimo do diretor Jim Jarmusch, não poderia ser mais diferente de Kylo Ren, o vilão mascarado do novo "Star wars". Em comum, só a atuação marcante de Adam Driver. Na ação fantástica, o ator dá algum teor humano a seus terríveis poderes; no drama sobre a vida real, ele ajuda a mostrar a mágica que pode haver na rotina.
Paterson" tem sessões na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo nesta quinta (27) e sexta (28)
Ainda não há data definida para estreia nacional.
O início pode dar a impressão de que "nada acontece". Quem viu "Sobre café e cigarros" (2003), "Flores partidas" (2005), "Amantes eternos" (2013) ou outros do diretor entende de cara o estilo do filme. Mas "Paterson" pode agradar até o espectador não iniciado. Méritos do roteiro redondo e do magnetismo de Driver, estranho e seguro de si ao mesmo tempo - vide a série "Girls".
Motorista-poeta
O título do filme é tanto o nome do protagonista quanto da sua cidade em New Jersey. Uma das várias coincidências que parecem banais, mas vão se revelando especiais. Ele é um cara comum, um motorista de ônibus, casado com uma jovem aspirante a cantora (ou pintora, ou cozinheira, depende do dia). Os dois moram numa casa simples com o buldogue Marvin.
O título do filme é tanto o nome do protagonista quanto da sua cidade em New Jersey. Uma das várias coincidências que parecem banais, mas vão se revelando especiais. Ele é um cara comum, um motorista de ônibus, casado com uma jovem aspirante a cantora (ou pintora, ou cozinheira, depende do dia). Os dois moram numa casa simples com o buldogue Marvin.
Se Laura (Golshifteh Farahani) tem a cabeça nas nuvens, Paterson tem os pés no chão, confortável na sua vida sem luxo. Ávido leitor, apaixonado pelo poeta local William Carlos Williams, ele também escreve suas poesias em um caderninho. Mas faz isso de forma nada afetada. Nem pensa em ser publicado e sabe que a profissão principal é motorista mesmo.
O vencedor
Não é por acaso que as poesias surgem de coisas banais, como uma caixa de fósforos. Nem é aleatória a profissão, que o faz rodar pelos mesmos caminhos. Mas não se trata de empatia por um "perdedor". Nem de uma grande revelação que pode haver por trás do dia a dia.
Não é por acaso que as poesias surgem de coisas banais, como uma caixa de fósforos. Nem é aleatória a profissão, que o faz rodar pelos mesmos caminhos. Mas não se trata de empatia por um "perdedor". Nem de uma grande revelação que pode haver por trás do dia a dia.
Se há um segredo, é como Paterson não perde a sensibilidade entre uma viagem e outra. O mesmo pode ser dito de Jarmusch. Afinal, não são tantos filmes assim que conseguem prender o espectador mostrando um casal feliz, que ama um ao outro e vive em harmonia.
Cão marcante
Prova do talento do diretor é o tanto de risadas e até de raiva que o cão Marvin desperta - em cenas bem construídas, nas quais ele complementa a interação do casal. Direção e montagem fazem com que ele seja ator mais expressivo que muito humano por aí. Sério.
Prova do talento do diretor é o tanto de risadas e até de raiva que o cão Marvin desperta - em cenas bem construídas, nas quais ele complementa a interação do casal. Direção e montagem fazem com que ele seja ator mais expressivo que muito humano por aí. Sério.
Tanto que a cachorrinha Nellie, intérprete de Marvin, levou a "Palma de Ouro canina". O prêmio alternativo é oferecido no Festival de Cannes. O vencedor mais conhecido é Uggie, de "O artista". A reviravolta triste é que foi um prêmio pôstumo: Nellie morreu após o filme.
"Sua performance foi incrível", homenageou o produtor Carter Logan ao receber o "Palm Dog" em nome dela. O discurso foi de partir o coração - assim como "Paterson", que nem precisa apelar para cachorrinho falecido para emocionar.
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