Com Sisu, nº de vagas da USP para cota racial cresce 376% em um ano
No segundo ano de participação parcial da Universidade de São Paulo no Sisu, 586 vagas serão oferecidas para estudantes pretos, pardos ou indígenas.
A adesão da Universidade de São Paulo (USP) ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu) quebrou um tabu histórico da maior e mais conceituada instituição de ensino superior do Brasil: as cotas raciais. A implantação da política de ação afirmativa, porém, não veio de uma única decisão central da universidade. Após a aprovação, no Conselho Universitário (CO), da adesão parcial ao Sisu, em julho de 2015, cada faculdade, escola ou instituto ganhou autonomia para definir se participaria ou não da seleção do governo federal, com quantas vagas e de que forma.
Neste domingo (22) e segunda (23), publica três reportagens especiais sobre a decisão que abriu uma alternativa inédita de acesso à graduação da USP.
- Entre 2016 e 2017, o número de vagas da USP destinadas ao Sisu subiu 57%
- No mesmo período, a quantidade de vagas reservadas para a cota racial cresceu 376%
- Um dos primeiros estudantes da USP aprovados pela cota racial relata sua trajetória
- Em 2016, quase metade das vagas da USP no Sisu ficaram vazias, e foram preenchidas pelos candidatos da Fuvest
- A Pró-Reitoria de Graduação e professores de diversas unidades explicam os motivos por trás do aumento de vagas no Sisu e os planos para aumentar o preenchimento delas
No ano passado, o curso de relações internacionais foi um dos poucos a reservar, no Sisu, seis das 60 vagas anuais para novos alunos a candidatos pardos ou indígenas que tenham feito o ensino médio na rede pública. Graças a essa decisão, o estudante Jefferson Oliveira, que um ano antes havia abandonado a escola para estudar sozinho, conseguiu usar sua nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para, ao mesmo tempo, assegurar o certificado de conclusão do ensino médio e um lugar na carreira que quer seguir. Filho de uma diarista e um pedreiro, Jefferson não conseguiu passar para a segunda fase na Fuvest 2016 por poucos pontos, mas hoje é um dos veteranos que se preparam para receber os novatos de 2017.
A adesão da Universidade de São Paulo (USP) ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu) quebrou um tabu histórico da maior e mais conceituada instituição de ensino superior do Brasil: as cotas raciais. A implantação da política de ação afirmativa, porém, não veio de uma única decisão central da universidade. Após a aprovação, no Conselho Universitário (CO), da adesão parcial ao Sisu, em julho de 2015, cada faculdade, escola ou instituto ganhou autonomia para definir se participaria ou não da seleção do governo federal, com quantas vagas e de que forma.
Neste domingo (22) e segunda (23), publica três reportagens especiais sobre a decisão que abriu uma alternativa inédita de acesso à graduação da USP.
- Entre 2016 e 2017, o número de vagas da USP destinadas ao Sisu subiu 57%
- No mesmo período, a quantidade de vagas reservadas para a cota racial cresceu 376%
- Um dos primeiros estudantes da USP aprovados pela cota racial relata sua trajetória
- Em 2016, quase metade das vagas da USP no Sisu ficaram vazias, e foram preenchidas pelos candidatos da Fuvest
- A Pró-Reitoria de Graduação e professores de diversas unidades explicam os motivos por trás do aumento de vagas no Sisu e os planos para aumentar o preenchimento delas
No ano passado, o curso de relações internacionais foi um dos poucos a reservar, no Sisu, seis das 60 vagas anuais para novos alunos a candidatos pardos ou indígenas que tenham feito o ensino médio na rede pública. Graças a essa decisão, o estudante Jefferson Oliveira, que um ano antes havia abandonado a escola para estudar sozinho, conseguiu usar sua nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para, ao mesmo tempo, assegurar o certificado de conclusão do ensino médio e um lugar na carreira que quer seguir. Filho de uma diarista e um pedreiro, Jefferson não conseguiu passar para a segunda fase na Fuvest 2016 por poucos pontos, mas hoje é um dos veteranos que se preparam para receber os novatos de 2017.
22 cursos seguem de fora do Sisu
O curso de medicina da Capital é um de 22 que seguem fora do Sisu., a FMUSP, que, pelo segundo ano, decidiu não aderir ao Sisu, afirmou que "criou um Grupo de Trabalho para analisar a participação de universidades estaduais e federais da área da saúde que aderiram ao Sisu", e que "a adesão ao Sistema será discutida pela Comissão de Graduação da FM após a conclusão da análise".
Os outros três cursos da FMUSP (fisioterapia, fotoaudiologia e terapia ocupacional) também só escolherão calouros pela Fuvest em 2017. Além da Faculdade de Medicina, o Instituto de Física e a Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) também deixaram todos os seus cursos exclusivamente no vestibular tradicional. Na Escola de Comunicações e Artes (ECA) e na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), só ficaram fora do Sisu os cursos que têm provas de habilidades específicas, como artes cênicas, audiovisual e música. No Instituto de Matemática e Estatística (IME), todos os cursos, com exceção do bacharelado em ciência da computação, têm parte das vagas na seleção via Enem.
Entre os 121 cursos que entraram no Sisu, a média de vagas separadas para os estudantes que fizeram o Enem é de 22,3%. O curso que tem a maior porcentagem de vagas é editoração na ECA: das 15 vagas disponíveis, cinco vão ser oferecidas pelo Sisu na próxima semana, oq ue representa 33,3% do total. Os cursos de engenharia de alimentos em Pirassununga, matemática aplicada e computação científica em São Carlos e arquitetura e urbanismo em São Carlos terão entre 31% e 32% do total de vagas no sistema do MEC.
Já em termos absolutos, o curso da USP com o maior número de vagas oferecidas no Sisu é letras: 255 das 849 vagas serão incluídas no sistema, o que representa 30% do total.
Dos 37 cursos que estreiam neste ano no Sisu, 14 terão pelo menos 30% das vagas selecionadas via Enem, e sete aderiram com menos de 10% das vagas. Entre eles estão cursos com notas de corte altas na Fuvest, como as engenharias na Escola Politécnica, jornalismo e arquitetura e urbanismo.
O curso de medicina da Capital é um de 22 que seguem fora do Sisu., a FMUSP, que, pelo segundo ano, decidiu não aderir ao Sisu, afirmou que "criou um Grupo de Trabalho para analisar a participação de universidades estaduais e federais da área da saúde que aderiram ao Sisu", e que "a adesão ao Sistema será discutida pela Comissão de Graduação da FM após a conclusão da análise".
Os outros três cursos da FMUSP (fisioterapia, fotoaudiologia e terapia ocupacional) também só escolherão calouros pela Fuvest em 2017. Além da Faculdade de Medicina, o Instituto de Física e a Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) também deixaram todos os seus cursos exclusivamente no vestibular tradicional. Na Escola de Comunicações e Artes (ECA) e na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), só ficaram fora do Sisu os cursos que têm provas de habilidades específicas, como artes cênicas, audiovisual e música. No Instituto de Matemática e Estatística (IME), todos os cursos, com exceção do bacharelado em ciência da computação, têm parte das vagas na seleção via Enem.
Entre os 121 cursos que entraram no Sisu, a média de vagas separadas para os estudantes que fizeram o Enem é de 22,3%. O curso que tem a maior porcentagem de vagas é editoração na ECA: das 15 vagas disponíveis, cinco vão ser oferecidas pelo Sisu na próxima semana, oq ue representa 33,3% do total. Os cursos de engenharia de alimentos em Pirassununga, matemática aplicada e computação científica em São Carlos e arquitetura e urbanismo em São Carlos terão entre 31% e 32% do total de vagas no sistema do MEC.
Já em termos absolutos, o curso da USP com o maior número de vagas oferecidas no Sisu é letras: 255 das 849 vagas serão incluídas no sistema, o que representa 30% do total.
Dos 37 cursos que estreiam neste ano no Sisu, 14 terão pelo menos 30% das vagas selecionadas via Enem, e sete aderiram com menos de 10% das vagas. Entre eles estão cursos com notas de corte altas na Fuvest, como as engenharias na Escola Politécnica, jornalismo e arquitetura e urbanismo.
'Pluralidade de pensamentos'
A Escola de Artes e Ciências Humanas (Each), que tem cursos no campus da USP Leste, na Capital, aderiu ao Sisu no ano passado com 30% das vagas, em uma proporção idêntica para as modalidades de ampla concorrência, escola pública e pretos, pardos e indígenas. Em entrevista Luciano Antonio Digiampietri, presidente da Comissão de Graduação da unidade, afirmou que a primeira participação foi positiva. "Recebemos estudantes de diferentes locais do país e diferentes contextos socioculturais contribuindo bastante com a pluralidade de pensamentos tão importante para a universidade."
A Each decidiu manter sua participação inalterada em termos de números de vagas. No campus de Ribeirão Preto, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) também decidiu manter a mesma adesão ao Sisu nesta segunda edição. Isso quer dizer que, novamente, haverá, pelo Sisu, a seleção de estudantes de escola pública para o curso de medicina em Ribeirão – o que tem a maior relação entre candidato e vaga da Fuvest.
"Consideramos o Enem e o Sisu como um importante passo da Universidade de São Paulo para ampliar as possibilidades de ingresso a seus cursos e também acreditamos que a iniciativa deva ser aprimorada pela análise dos seus resultados e pela correção dos problemas e questões que surjam pela prática", Eduardo Ferriolli, presidente da Comissão de Graduação da FMRP. "Em especial, pretendíamos ampliar as possibilidades de acesso a nossos cursos para alunos da rede pública de todo o país que tivessem interesse, o que foi concretizado, ainda que com sucesso parcial nesta primeira edição."
Marcos Neira, presidente da Comissão de Graduação da Faculdade de Educação (FE), faz questão de explicar que não há discriminação entre os calouros aprovados pelo Sisu e os que entraram na USP pela Fuvest. "Para nós, são todos iguais, todo mundo é aluno USP, não faz diferença de modo nenhum o tipo, o período, o gênero, a etnia. Sisu, Fuvest, transferência interna, externa, para nós eles todos são iguais."
"Para nós, são todos iguais, todo mundo é aluno USP, não faz diferença de modo nenhum o tipo, o período, o gênero, a etnia. Sisu, Fuvest, transferência interna, externa, para nós eles todos são iguais."
(Marcos Neira, presidente da Comissão de Graduação da FE-USP)
A Escola de Artes e Ciências Humanas (Each), que tem cursos no campus da USP Leste, na Capital, aderiu ao Sisu no ano passado com 30% das vagas, em uma proporção idêntica para as modalidades de ampla concorrência, escola pública e pretos, pardos e indígenas. Em entrevista Luciano Antonio Digiampietri, presidente da Comissão de Graduação da unidade, afirmou que a primeira participação foi positiva. "Recebemos estudantes de diferentes locais do país e diferentes contextos socioculturais contribuindo bastante com a pluralidade de pensamentos tão importante para a universidade."
A Each decidiu manter sua participação inalterada em termos de números de vagas. No campus de Ribeirão Preto, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) também decidiu manter a mesma adesão ao Sisu nesta segunda edição. Isso quer dizer que, novamente, haverá, pelo Sisu, a seleção de estudantes de escola pública para o curso de medicina em Ribeirão – o que tem a maior relação entre candidato e vaga da Fuvest.
"Consideramos o Enem e o Sisu como um importante passo da Universidade de São Paulo para ampliar as possibilidades de ingresso a seus cursos e também acreditamos que a iniciativa deva ser aprimorada pela análise dos seus resultados e pela correção dos problemas e questões que surjam pela prática", Eduardo Ferriolli, presidente da Comissão de Graduação da FMRP. "Em especial, pretendíamos ampliar as possibilidades de acesso a nossos cursos para alunos da rede pública de todo o país que tivessem interesse, o que foi concretizado, ainda que com sucesso parcial nesta primeira edição."
Marcos Neira, presidente da Comissão de Graduação da Faculdade de Educação (FE), faz questão de explicar que não há discriminação entre os calouros aprovados pelo Sisu e os que entraram na USP pela Fuvest. "Para nós, são todos iguais, todo mundo é aluno USP, não faz diferença de modo nenhum o tipo, o período, o gênero, a etnia. Sisu, Fuvest, transferência interna, externa, para nós eles todos são iguais."
"Para nós, são todos iguais, todo mundo é aluno USP, não faz diferença de modo nenhum o tipo, o período, o gênero, a etnia. Sisu, Fuvest, transferência interna, externa, para nós eles todos são iguais."
(Marcos Neira, presidente da Comissão de Graduação da FE-USP)
Cota racial no noturno
Na FE, que fica na Cidade Universitária, na Zona Oeste da Capital, o curso de pedagogia já tinha aderido ao Sisu em 2016 com 30% do total de vagas, mas todas concentradas na modalidade de estudantes oriundos da rede pública. Neste ano, a unidade decidiu que dois terços destas vagas agora vão para estudantes de escola pública que se declaram pretos, pardos e indígenas.
Além disso, a faculdade definiu que todas as 36 vagas da cota racial serão destinadas ao curso no período noturno. No vespertino, 18 vagas serão reservadas para qualquer aluno de escola pública. Para as demais 126 vagas, os calouros serão selecionados pela Fuvest, que realizou a segunda fase do vestibular 2017 nos dias 8, 9 e 10 de janeiro.
Isso torna o curso de pedagogia o único que reserva todas as vagas da cota racial para os cursos do período noturno – nos demais 120 cursos, existe uma tendência a dividir as vagMarcos Neira, presidente da Comissão de Graduação da FEas de cotas por turnos igualmente, mas, se o número total for ímpar, em geral, o noturno recebeu a maior reserva de vagas para candidatos PPI.
O motivo dessa concentração, segundo Neira, está baseado em uma série de levantamentos, estudos e consultas feitas pelos professores do curso. "O espírito da Faculdade de Educação é sempre democratizar o máximo o acesso e a permanência dos estudantes", explicou ele.
"Essa discussão foi realizada com a participação de professores, funcionários, alunos, e pessoas que estudam esse assunto. Fizemos uma pesquisa na unidade com relação ao perfil dos nossos alunos efetivamente matriculados. Percebemos que a turma da tarde tem um número maior de oriundos da escola privada, e a da noite tem quantidade maior de alunos que pertencem a essa categoria do Censo: pretos, pardos e indígenas."
Segundo ele, no vespertino, 78% dos alunos se declaram brancos e 12% se declaram pardos ou negros. No noturno, esses números são de 62% e 25%, respectivamente.
"Quero enfatizar que esse é um período de transição. Nossa ideia é alcançar aquilo que está no Censo do Estado de São Paulo: 30% da população paulista é formada de pretos, pardos e indígenas. No ano que vem vamos colocar um percentual maior ainda para PPI, para chegar a 30% de vagas para pretos, pardos e indígenas", afirmou Neira.
Na FE, que fica na Cidade Universitária, na Zona Oeste da Capital, o curso de pedagogia já tinha aderido ao Sisu em 2016 com 30% do total de vagas, mas todas concentradas na modalidade de estudantes oriundos da rede pública. Neste ano, a unidade decidiu que dois terços destas vagas agora vão para estudantes de escola pública que se declaram pretos, pardos e indígenas.
Além disso, a faculdade definiu que todas as 36 vagas da cota racial serão destinadas ao curso no período noturno. No vespertino, 18 vagas serão reservadas para qualquer aluno de escola pública. Para as demais 126 vagas, os calouros serão selecionados pela Fuvest, que realizou a segunda fase do vestibular 2017 nos dias 8, 9 e 10 de janeiro.
Isso torna o curso de pedagogia o único que reserva todas as vagas da cota racial para os cursos do período noturno – nos demais 120 cursos, existe uma tendência a dividir as vagMarcos Neira, presidente da Comissão de Graduação da FEas de cotas por turnos igualmente, mas, se o número total for ímpar, em geral, o noturno recebeu a maior reserva de vagas para candidatos PPI.
O motivo dessa concentração, segundo Neira, está baseado em uma série de levantamentos, estudos e consultas feitas pelos professores do curso. "O espírito da Faculdade de Educação é sempre democratizar o máximo o acesso e a permanência dos estudantes", explicou ele.
"Essa discussão foi realizada com a participação de professores, funcionários, alunos, e pessoas que estudam esse assunto. Fizemos uma pesquisa na unidade com relação ao perfil dos nossos alunos efetivamente matriculados. Percebemos que a turma da tarde tem um número maior de oriundos da escola privada, e a da noite tem quantidade maior de alunos que pertencem a essa categoria do Censo: pretos, pardos e indígenas."
Segundo ele, no vespertino, 78% dos alunos se declaram brancos e 12% se declaram pardos ou negros. No noturno, esses números são de 62% e 25%, respectivamente.
"Quero enfatizar que esse é um período de transição. Nossa ideia é alcançar aquilo que está no Censo do Estado de São Paulo: 30% da população paulista é formada de pretos, pardos e indígenas. No ano que vem vamos colocar um percentual maior ainda para PPI, para chegar a 30% de vagas para pretos, pardos e indígenas", afirmou Neira.
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