Conheça interior de presídio onde ocorreu massacre com 56 mortes
Mortes de presos ocorreram durante rebelião de 17h.
Unidade tinha cela de 'luxo' para 'encontros íntimos'.
O Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) ganhou as manchetes do mundo com o massacre de 56 presos no primeiro dia de 2017. A notícia reacendeu o debate sobre a estrutura e a superlotação do lugar, que já havia sido palco de outras rebeliões e fugas. No ano passado, A unidade prisional após a descoberta de um túnel de 15 metros de profundidade e pôde constatar a situação em que vivem os mais de 1.200 presos. O local é o mesmo onde "celas de luxo" eram usadas para "encontros íntimos".
Na entrada de cada pavilhão, um scanner faz a revista dos visitantes, que passam por uma série de grades até chegar ao refeitório. Na lateral, é possível ver uma academia deteriorada, com equipamentos antigos ou improvisados.
por celas com presos. Passagens bíblicas estão escritas em paredes de várias celas e também em um cartaz no refeitório
Uma das celas visitadas não tinha nenhum detento e, segundo constatado pela reportagem, foi usada para a construção de um túnel de 15 metros de profundidade.
Durante a visita da reportagem ao Compaj, presos se reuniram na janela de uma das celas e gritaram aos jornalistas presentes, com pedidos de comida. Era visível a instalação de antenas improvisadas nas celas.
Ao todo, 1.224 presos cumpriam pena em regime fechado no local, que tinha apenas 454 vagas – o que representa um excedente de 170%.
Em uma das ocorrências de 2016, diversos discos de serra foram encontrados com presos. O material seria utilizado para a construção de túneis de fuga. No pátio, foram achadas duas escadas de madeira, feitas com pedaços inteiros de troncos de árvore.
Na ocasião, o secretário Pedro Florêncio, titular da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), citou ainda falhas e reconheceu problemas na segurança e fiscalização dos presos.
"Quem trabalha na fiscalização diária é uma empresa terceirizada. Funcionários dessa empresa podem ter sido negligentes. É um absurdo. Eu não tenho como justificar. Funcionários abrem e fecham cela por cela todos os dias e não percebem a quantidade de terra. Não tem como isso", afirmou.
Celas de luxo e túneis
Um ano antes da visita do G1, uma revista no Compaj revelou a existência de "celas de luxo", com piso cerâmico, eletrodomésticos, frigobar e estoque de alimento.
À época, o então titular da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), Louismar Bonates, afirmou que as "celas de luxo" era usadas para encontros íntimos de presos da unidade. Entretanto, não foi explicado por que havia estoque de comida e churrasqueira no alojamento. As "celas de luxo" foram destruídas meses depois.
Ao menos nove túneis foram encontrados na unidade em 2016, e seriam utilizados para fugas.
Cerca de dois meses antes do massacre, um túnel de 2,7 metros de profundidade foi achado dentro da cela 5, do pavilhão 1 do Complexo Penitenciário.
Também foram apreendidos celulares, cinco carregadores, chips telefônicos, uma porção de entorpecente e estoques.
Dezenas de fugas ocorreram na unidade. Em um dos casos, registrado um mês antes do massacre, 14 presos escaparam do Compaj após um tiroteio.
De acordo com o governo do Amazonas, o sistema carcerário do Estado possui 19 unidades prisionais, sendo 11 na capital e 8 no interior. Um novo Centro de Detenção Provisória na capital deverá ser concluído no primeiro semestre de 2017. O número de internos hoje no Estado é de 10.323, sendo pouco mais de 7 mil na capital e o restante no interior.
Entenda o caso
O primeiro tumulto nas unidades prisionais do estado ocorreu no Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat), localizado no km 8 da BR-174 (Manaus-Boa Vista). Um total de 72 presos fugiu da unidade prisional na manhã de domingo (1º).
Horas mais tarde, por volta de 14h, detentos do Compaj iniciaram uma rebelião violenta na unidade, que resultou na morte de 56 presos. O massacre foi liderado por internos da facção Família do Norte (FDN).
A rebelião no Compaj durou aproximadamente 17h e acabou na manhã desta segunda-feira (2). Após o fim do tumulto na unidade, o Ipat e o Centro de Detenção Provisória Masculino (CDPM) também registraram distúrbios.
No Instituto, internos fizeram um "batidão de grade", enquanto no CDPM os internos alojados em um dos pavilhões tentaram fugir, mas foram impedidos pela Polícia Militar, que reforçou a segurança na unidade.
No fim da tarde, quatro presos da Unidade Prisional do Puraquequara (UPP), na Zona Leste de Manaus, foram mortos dentro do presídio. Segundo a SSP, não se tratou de uma rebelião, mas sim de uma ação direcionada a um grupo de presos.
Durante a visita da reportagem ao Compaj, presos se reuniram na janela de uma das celas e gritaram aos jornalistas presentes, com pedidos de comida. Era visível a instalação de antenas improvisadas nas celas.
Ao todo, 1.224 presos cumpriam pena em regime fechado no local, que tinha apenas 454 vagas – o que representa um excedente de 170%.
"Quem trabalha na fiscalização diária é uma empresa terceirizada. Funcionários dessa empresa podem ter sido negligentes. É um absurdo. Eu não tenho como justificar. Funcionários abrem e fecham cela por cela todos os dias e não percebem a quantidade de terra. Não tem como isso", afirmou.
Um ano antes da visita do G1, uma revista no Compaj revelou a existência de "celas de luxo", com piso cerâmico, eletrodomésticos, frigobar e estoque de alimento.
O primeiro tumulto nas unidades prisionais do estado ocorreu no Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat), localizado no km 8 da BR-174 (Manaus-Boa Vista). Um total de 72 presos fugiu da unidade prisional na manhã de domingo (1º).
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