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ONG faz vaquinha on-line para produzir calendário em braille para cegos


Fundação Dorina tenta juntar R$ 60 mil até 21 de janeiro em uma campanha de financiamento coletivo para produzir 8 mil calendários com o sistema braille de pontos em relevo.

 Uma campanha de financiamento coletivo tenta juntar R$ 60 mil até 21 de janeiro para produzir 8 mil calendários de 2017 para pessoas com deficiência visual. Feita pela Fundação Dorina, que foi criada em 1946 e atua na inclusão de pessoas com deficiência visual, a campanha já conseguiu, até a noite de segunda-feira (2), arrecadar mais de R$ 39 mil, ou 65% do total esperado, com a ajuda de 583 doadores.
Em 2010, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tinha uma população com mais de 6,5 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual: 6 milhões têm baixa visão, e outros 582 mil brasileiros são cegos.
O calendário é produzido pela ONG há 30 anos, e permite que os cegos e pessoas com baixa visão possam ter acesso fácil a informações sobre dias, meses e semanas do ano, além de outros detalhes. Além do conteúdo impresso em braille com relevo, as datas e outras informações serão impressas com fonte ampliada, para pessoas com baixa visão.
"Por mais que a tecnologia já tenha avançado e pessoas com deficiência visual possam consultar datas no computador ou celular, um calendário impresso é essencial para um planejamento semanal, ou mesmo uma consulta das fases da Lua", explicou assessoria de imprensa da Fundação Dorina.
A entidade já realizou outras campanhas de financiamento coletivo no passado, mas essa é a primeira vez que a produção dos calendários está sendo feita com base em recursos doados por meio da vaquinha. Durante 20 anos, o calendário era de bolso e produzido só em braille. Mas, há dez anos, a fundação passou a imprimir um calendário de mesa também escrito a tinta.

Sistema de quase 200 anos

O calendário é impresso em braille, um sistema de leitura e escrita criado há 192 anos pelo francês Louis Braille, que usa pontos em relevo para formar letras, número e outros símbolos relevantes.
Braille, que perdeu totalmente a visão quando ainda era uma criança pequena, desenvolveu o sistema na década de 1820, quando ainda era adolescente. Após a sua morte, o sistema se tornou popular e foi disseminado no mundo todo como uma das formas mais rápidas e eficazes de leitura e escrita de pessoas que não enxergam. Nesta quarta-feira (4), data do aniversário do francês, vários países comemoram o Dia Mundial do Braille.
Segundo a Fundação Dorina, o braille é usado como meio de comunicação tanto por pessoas cegas quanto por pessoas que têm baixa visão.

Tecnologia e inclusão


Hoje em dia, há também uma série de tecnologias que permitem a inclusão das pessoas com deficiência visual, como aplicativos e programas chamados de leitores de tela, que "leem" em voz alta os textos e descrições de imagens de uma página na internet, por exemplo.
Mas Regina Oliveira, coordenadora de revisão de materiais em braille da Fundação Dorina, explica que a tecnologia, que facilita a impressão de livros em braille e a produção de obras faladas, deve ser usada como apoio, e não substituta da técnica da escrita.
"A verdadeira educação de crianças cegas só acontece quando elas dispõem de livros que contenham a representação dos símbolos da matemática, química, física e de outras ciências e a impressão, em relevo, de tabelas, gráficos, mapas, figuras geométricas e outras ilustrações que lhes forneçam os mesmos dados oferecidos aos estudantes videntes", explicou ela.

Regina, que é cega desde os sete anos, diz que a leitura em braille é o único acesso direto que crianças e adultos cegos têm à leitura e, por isso, as obras impressas garantem autonomia e independência às pessoas cegas tanto no ambiente escolar quanto no profissional ou pessoal.
"E o que dizer dos surdocegos, que têm o braille como forma única de escrita e leitura e, consequentemente, como meio exclusivo de acesso à educação, à cultura e à informação?"

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