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Haddad diz que entrega SP funcionando e com contas em dia e culpa a crise por promessas não cumpridas


Prefeito de São Paulo faz um balanço de seus quatro anos de mandato.
O Prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), diz que a crise econômica e a falta de dinheiro federal o impediram de entregar todas as promessas de campanha. Mas afirma que seu sucessor, João Dória (PSDB), receberá uma cidade funcionando, com as contas em dia, sem dever salários e planejada até 2030.
Segundo ele, Dória "vai assumir em condições de governar a cidade sem solução de continuidade (interrupção, quebra de continuidade), pelo contrário, a cidade funcionando". "Nós enfrentamos a maior recessão da história da cidade com muita dignidade, melhorando e aperfeiçoando os serviços públicos de uma maneira geral", disse o prefeito, ao fazer um balanço de seus quatro anos de governo. 
Das 80 promessas feitas por Haddad durante a campanha e que puderam ser claramente cobradas e medidas, 39 foram cumpridas, 26 parcialmente, e 15 não foram cumpridas.
(Além de São Paulo, foram feitas avaliações das promessas dos prefeitos de Rio, Belo Horizonte e Recife. )
Terceiro prefeito petista de São Paulo, Haddad perdeu a eleição para o tucano Doria no primeiro turno e repetiu a sina de duas ex-prefeitas do PT: Marta Suplicy, hoje no PMDB, não se reelegeu em 2004 e Luiza Erundina, hoje no PSOL, não fez o sucessor em 1992.
Agora Haddad se prepara para voltar à USP para dar aulas e atuar como advogado. 
.Legado
Haddad diz que, em um período de crise em que outros estados e municípios não vão pagar 13º salário e têm dívidas com fornecedores, seu legado é entregar as contas em dia e ter planejado a cidade até 2030, com a licitação de obras e aprovação de leis estruturais, como o Plano Diretor.
O prefeito ressalta o grau de investimento dado à cidade pela agência de risco Fitch em novembro de 2015 (um mês depois, o Brasil perdeu o grau de investimento e, com isso, a cidade de São Paulo também deixou de tê-lo, já que nenhum estado pode ter avaliação melhor que a do país, segundo a agência).

"Nós não só obtivemos grau de investimento pela Fitch, como estamos em dia com pagamento de servidores, fornecedores e com o maior volume de investimentos da história da cidade em quatro anos. Nós vamos fechar o mandato em valores constantes em R$ 17 bilhões de investimento, que é um recorde histórico”, diz.
Ele também destaca: a renegociação da dívida, feita com o governo federal; a restruturação de carreiras no funcionalismo público; obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) licitadas e licenciadas; e atualização da legislação urbanística, com a aprovação do Plano Diretor e Lei de Uso e Ocupação do Solo. “É um conjunto de medidas estruturais, diante dessa crise que estamos vivendo, que coloca São Paulo em um patamar diferenciado”, diz, afirmando que fez a maior reforma financeira e urbanística da história recente da cidade.
Falta de dinheiro federal“O que mais nos prejudicou foi a crise da União. Depois da reeleição de 2014, a União parou. Nós estamos há dois anos paralisados, do ponto de vista do Minha Casa, Minha Vida, do ponto de vista de algumas obras estruturais importantes. Apesar de eu ter entregue um volume considerável de obras, poderia ter entregue muito mais”, diz Haddad.

Ele cita a área de habitação, em que prometeu entregar 55 mil unidades habitacionais, mas apenas 12,5 mil foram entregues. Outras 23,6 mil estão em obras. “Nós poderíamos estar com 55, 60 mil. E como eu sou uma pessoa que tenho o social como prioridade, eu me ressinto de não ter obtido mais recursos do Minha Casa, Minha Vida nos últimos dois anos. O programa foi paralisado há dois anos e não foi retomado até agora”, disse.
PAC
Questionado se contou muito com a verba federal, já que a ex-presidente Dilma Rousseff anunciou cerca de R$ 9 bilhões em obras na cidade, mas pouco disso chegou efetivamente, o prefeito diz que era sua obrigação contar com a verba. “Eu prefiro ser acusado de ter tentado aproveitar ao máximo os programas disponíveis do que ter feito o que meus antecessores fizeram e não aproveitar as oportunidades que estavam disponíveis. A minha obrigação é aproveitar toda e qualquer oportunidade”, diz.
Polêmica com moradores de ruaO prefeito afirma que um dos momentos mais difíceis da gestão foi quando a Guarda Civil Metropolitana foi acusada de tirar pertences e cobertores de moradores de rua em junho deste ano, no frio. A Prefeitura chegou a publicar decreto para impedir a retirada dos objetos. Haddad afirma que a suposta prática contra os moradores de rua se revelou uma mentira. “As afirmações que foram feitas foram caluniosas. E me perdoem a sinceridade, mas nesse caso a imprensa teve um papel deplorável porque sequer aguardou a apuração das acusações. E saiu dizendo que a GCM tinha participado de um genocídio. A imprensa teve um papel deplorável, e na minha opinião pela proximidade das eleições”, afirma.

UberO prefeito afirma que legislação criada para regulamentar o funcionamento dos aplicativos na cidade é moderna e que a prefeitura conseguiu, na Justiça, derrubar decisão que permitia ao Uber não ser fiscalizado e, assim, rodar com quantos veículos quisesse na capital. "Nós não estamos com nenhum problema de fiscalizar o Uber. Inclusive o Uber e os outros aplicativos estão recolhendo outorga para os cofres públicos. No ano que vem, todos os aplicativos somados devem render mais de R$ 100 milhões de arrecadação de outorga”, diz.
Parque Augusta
Haddad termina o mandato sem resolver a questão do terreno de 24 mil metros quadrados na Rua Augusta. O prefeito afirma que há um impasse nas negociações com as incorporadoras donas do terreno, apesar de a administração e o Ministério Público terem recuperado US$ 25 milhões supostamente desviados na gestão Paulo Maluf e que, segundo o MP, devem ser destinados à construção do parque.
Favela MoinhoO prefeito prometeu em 2014 a regularização da área que fica na região central de São Paulo. Afirma que não foi possível em razão de um litígio fundiário. “Ali tem uma pendência judicial que não se resolveu. E acho que vai demorar ainda muito tempo para se resolver. Tem um processo de usucapião em curso, os moradores não aceitam abrir mão. Eu também no lugar deles não aceitaria. Mas o fato é que enquanto não se resolver a pendência de quem é a terra...”, diz.
Braços Abertos
Em outubro os contratos com os hotéis parceiros no programa Braços Abertos, que recebem usuários de crack retirados da Carcolândia, foram refeitos por uma ONG ligada à Secretaria da Saúde. Os contratos são mensais. Haddad afirma que não fará nenhum contrato maior para garantir a permanência dos participantes do programa na gestão Doria. O tucano já criticou o programa e chegou a afirmar que iria encerrá-lo. Disse depois que acabaria com a remuneração para ações de zeladoria, mas manteria a hospedagem. Haddad diz não acreditar que os moradores serão despejados e defende o programa Braços Abertos, afirmando que é uma ação elogiada internacionalmente.
Fim do mandato“Eu só queria continuar mais quatro anos para concluir o que eu comecei. Infelizmente, Erundina, Marta e eu não conseguimos concluir um trabalho. É muito difícil você concluir um trabalho de quatro anos em São Paulo”, diz Haddad. Ele cita a licença ambiental para a construção do Hospital de Parelheiros, que levou quase um ano pra ser obtida. “Tem coisas que você começa que você só colhe no segundo mandato”, diz.

Eleição
Haddad perdeu a eleição em todos os distritos, inclusive nos bairros periféricos onde havia vencido em 2012. Sua melhor votação foi em um distrito central (Pinheiros, com 24,48%). Na primeira metade do mandato, ele visitou pouco os bairros e foi criticado por isso. “Minha presença na periferia se deu no momento em que fazia sentido vistoriar as obras que eu planejei. Um começo de um mandato é um começo de um planejamento. As pessoas desprezam muito o trabalho de planejamento no Brasil, o que é um equívoco. Se tem uma coisa que não podemos ser acusados é de falta planejamento. A cidade está planejada até 2030, em todos os aspectos, tanto globais quanto setoriais", afirma.
Para o prefeito, o fato de duas ex-prefeitas do PT, Marta Suplicy (PMDB) e Luiza Erundina (PSOL), terem disputado as eleições “fragmentou o eleitorado que era aderente às propostas mais progressistas na periferia”. “Isso prejudicou muito e a disputa pela segunda vaga no segundo turno acabou criando uma espécie de ‘faixa exclusiva’ para que o Doria ganhasse no primeiro turno, porque não teve contestação”, diz.
Haddad diz que a crise econômica leva a uma crise de representação e que os eleitores acabam buscando “outsiders” da política. "A direita acaba se valendo de outsiders para retomar protagonismo com outro discurso, o discurso reativo ao processo que ela próxima estimulou."
PT
Após os recentes escândalos envolvendo o PT, o impeachment da presidente Dilma Rousseff e o fracasso da sigla nas eleições municipais, o prefeito diz que ainda não pode ver qual será o futuro da sigla que não deve mudar de nome, segundo ele.

“Vai depender muito dos desdobramentos da Lava Jato. Se a Lava Jato cumprir com suas obrigações e desvendar todo o sistema de financiamento dos partidos, independentemente de ideologia, vai se verificar, como está se apresentando na imprensa mais recentemente, que havia problemas em todos os partidos. Havia problemas de protocolo, para dizer o mínimo, no PT, aparentemente sim, no PSDB, no PMDB, no PP também. Então, se todo o sistema for desnudado e revelado para o país, vai se perceber que o problema não era o PT, era o padrão de financiamento dos partidos e o tipo de relacionamento entre público e privado que se estabeleceu desde sempre no Brasil, por falta até de coragem de enfrentar uma reforma política que separasse o dinheiro do poder”, diz.
“Se alguma acusação pode e deve ser feita ao PT é que alguns quadros não compreenderam que uma das tarefas progressistas no Brasil é justamente promover essa divisão entre o público e o privado e alguns aparentemente, não estou querendo acusar nem julgar ninguém, essa confusão foi comum a integrantes de vários partidos, inclusive do PT, não fazer a separação que tem que ser estabelecida para que não haja contaminação de uma coisa pela outra”, completa.
Próximos passosHaddad disse que não pretende presidir o PT porque “nunca participou da vida interna" do partido. O prefeito se esquiva para não responder se vai disputar o governo do estado ou algum outro cargo. Diz que vai tirar seis meses de sabático para organizar a vida.
“As pessoas que não tiveram experiência na administração pública às vezes não têm a dimensão de quanto sua vida privada desorganiza depois de muitos anos dedicados à vida pública. Eu estou há 16 anos na vida pública ininterruptamente, eu preciso de uns meses para organizar minha vida privada. Eu só vou pensar em alguma coisa depois desse período, porque realmente agora eu tenho que me dedicar à minha família, aos meus filhos e à minha vida profissional.”

Ele voltará à Universidade de São Paulo no dia 2 de janeiro e deve abrir escritório de advocacia e retomar suas atividades de consultoria jurídica e econômica
Doria
Haddad disse que é difícil avaliar os primeiros movimentos da futura gestão do tucano porque o discurso oficial do tucano é “contraditório”. No entanto, o petista diz que tem cabeças diferentes e que “jamais venderia Interlagos”.
“Interlagos é um patrimônio público que eu jamais pensaria em alienar. Nenhuma razão. Aumentaria a velocidade das vias? Jamais. Mas isso às vezes se corrige com o tempo, debate-se melhor”, diz.
Sobre a entrevista da secretária de Desenvolvimento Urbano da futura gestão, Heloísa Proença, em que ela diz que vai fazer alterações na legislação para deixar as regras mais atraentes, Haddad disse que até ela reconheceu o Plano Diretor um dos diplomas legais mais avançados na área do urbanismo moderno.
“Ele vai receber a cidade no melhor momento em 25, 30 anos. Isso eu te assino embaixo, pode contratar qualquer consultoria internacional pra atestar. É o melhor momento das finanças de São Paulo em 30 anos. Dívida, precatório, pagamento de fornecedor, reestruturação de carreiras. Agora, eu não estou dizendo que vai ser fácil porque nós estamos vivendo a pior recessão da história. E eu enfrentei os dois piores anos da história cidade. Sete e meio por cento de retração econômica. Então é um Orçamento difícil de manejar por causa da recessão? É. Mas compara com o resto do país, compara com qualquer outra cidade. Finanças você nunca fala 100%, você fala 99,5%. Pode ter alguma coisinha ou outra”, diz.
Eu mesmo, quando herdei do Kassab, tive que corrigir um monte de coisa. Paguei conta do Kassab e nem por isso saí ofendendo o Kassab. É normal que haja, num orçamento de R$ 50 bilhões, você pode ter, 0,1%, 0,5% de ajuste fino. Repito, o que posso afirmar é que é o melhor momento das finanças de São Paulo dos últimos 25, 30 anos. Eu desafio qualquer economista a contestar essa afirmação.

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