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Candidata a miss tem queimadura após bronzeamento em clínica clandestina


Mulher ganhou bolhas no pescoço, seios e barriga após procedimento. Polícia do DF investiga atividades no local, que funciona em casa de Vicente Pires.
A Polícia Civil do Distrito Federal investiga as atividades de uma clínica clandestina de estética que funciona em uma casa na Colônia Agrícola Samambaia, em Vicente Pires, desde que uma cliente denunciou ter tido lesões após sessão de bronzeamento natural. Blenda Soares, de 26 anos, participaria de um concurso de beleza e sofreu queimaduras na barriga e entre o pescoço e os seios após o procedimento.

Por e-mail, a Secretaria de Saúde informou que o local passou por inspeção recentemente. A pasta aguarda análise de um auditor da Vigilância Sanitária, que voltaria à clínica nesta segunda. A Agência de Fiscalização disse que também encaminharia uma equipe ao espaço. O resultado das visitas não foi informado. A Administração Regional de Vicente Pires declarou que o estabelecimento não tem alvará de funcionamento.
A clínica, conhecida como “Espaço das Divas”, traz na fachada a lista de serviços oferecidos: estética corporal, estética facial, design de sobrancelhas, depilação, manicure, nutrição e dieta personalizada e bronzeamento natural. A dona, Darlane de Oliveira, nega se lembrar de ter atendido a candidata a miss e disse que vai acioná-la judicial.
Por telefone, Darlane não negou que o espaço não tenha alvará de funcionamento e questionou a necessidade do documento. “Nunca vi pedi autorização para bronzear. Nunca vi pagar imposto para governo por isso.”

Em imagens divulgadas em redes sociais, grupos de mulheres passam pelo procedimento no local. Uma das fotos traz a suposta proprietária do local fazendo "v de vitória". Na descrição do perfil no Facebook, a dona diz que oferece o pacote de bronzeamento natural inclui esfoliação de pele e hidratação. "Usamos produtos próprios autorizados pela Anvisa e MS [Ministério da Saúde] que aceleram e ativam a melanina da pele. [...] O bronze dura por tempo indeterminado. Já se vê resultado na primeira sessão."


Blenda, que se preparava para participar do concurso Miss Continente DF 2016 como representante de Brazlândia, soube do estabelecimento por meio de redes sociais. “Vi no Facebook de uma colega que também participava e aí marquei”, lembra.
Em depoimento, a jovem contou que marcou o procedimento para o dia 1º de abril – véspera de quando teria prova de biquíni. Ela foi atendida pela própria proprietária da clínica, que a conduziu, junto a outras clientes, para uma espécie de quintal. O grupo se deitou em colchonetes ao redor da piscina e recebeu o produto, que foi aplicado por todo corpo, exceto no rosto, com um pincel. Blenda diz não saber de que material o bronzeador era feito.
“Ela mandava virar, de um lado para o outro. Cheguei por volta de 11h e saí quase 14h. Quando acabou, ela pediu para eu me molhar. Já estava vermelho, queimando, ardendo. Eu coloquei a roupa, paguei em espécie e chamei o táxi”, lembra. A jovem diz não se lembrar quanto foi cobrado pela sessão, mas estima ter pago entre R$ 60 e R$ 80.

Blenda conta que, ao chegar em casa, notou que começou a ter bolhas no local onde o produto foi aplicado. “Fui tomar banho, não conseguia nem me molhar no chuveiro. Queimava, doía. Pensei: ‘isso está estranho’. Começou a coçar, coçar, coçar. Pensei que podia ser alergia ao produto. Quando foi passando o vermelhão, ficou uma manchona bem no meu pescoço, entre os peitos.”
Ela conta ter se assustado com a situação, especialmente depois de notar que era possível puxar a pele. A jovem diz ter procurado a dona da clínica no dia posterior, quando deveria ter feito a prova de biquíni. Como resposta, ouviu que a reação era “normal”.
Ela só falava que ia passar, que ia passar. Aí eu peguei e não participei da prova, porque estava descascando e tinha parte do meu corpo que estava muito vermelha ainda, principalmente na barriga, na coxa e na lateral do bumbum”, lembra.
O caso só foi registrado duas semanas depois, e Blenda passou por exame no Instituto Médico Legal. O laudo apontou que a vítima sofreu “descamação da epiderme na face ântero-interna das coxas e na região infra-umbilical, compatível com queimadura de primeiro grau”. De acordo com a Polícia Civil, apesar disso, o resultado é inconclusivo em relação a lesão corporal. O caso segue sendo apurado pela 38ª Delegacia de Polícia.

“[A dona da clínica] Nunca deu assistência, nem ligou, falou comigo, nada. Ela não me deu explicação, não disse que produto usou. Foi a primeira vez que participei de concurso de beleza e que fiz bronzeamento. Para mim foi péssimo. Eu fiquei sem pontuação, porque essa prova minha de biquíni era a mais importante. Eu não pude participar. Eu só fui desfilar porque já tinha até alugado meu vestido. Não tive nota nenhuma”, conta a jovem.

“Tive depressão, tristeza. Não podia usar blusa, decote. Eu me sentia péssima. Hoje em dia tem duas marquinhas ainda, mas estão bem claras. Tem a mancha ainda. Tem na barriga e no pescoço. Foi o maior problema da minha vida. Eu só tive prejuízo, porque eu aluguei meu vestido, comprei sandália, maquiagem, cabelo, fora as outras coisas. Ainda tem a inscrição do concurso, que a gente paga, fora o investimento emocional”, completa.

Outro casoEm setembro, uma jovem de 20 anos morreu depois de passar por sessão de bronzeamento em uma clínica que funcionava em uma casa na Asa Sul. Nara Farias Preto fez o procedimento estético por três horas a mais que o recomendado e teve três paradas cardíacas antes de morrer, segundo familiares. Após a morte, a suposta clínica clandestina foi desmontada.
A Sociedade Brasileira de Dermatologia adverte que mesmo os produtos regulamentados e aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) devem ser utilizados sob prescrição médica e observados o modo de uso. Atualmente, há 831 produtos de bronzeamento registrados no órgão. A cada cinco anos eles têm de ter o registro renovado para comprovação da segurança e eficácia da formulação.
Desde 2009 os aparelhos de bronzeamento são proibidos no Brasil. “Estima-se que a exposição às máquinas de bronzeamento artificial aumente em 75% o risco de desenvolvimento de melanoma maligno, o mais agressivo dos cânceres de pele, além de favorecerem o desenvolvimento irreversível de manchas escuras, de rugas e ressecamento”, afirma o coordenador da Campanha de Câncer da Pele da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Emerson Lima.

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