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Como 5 cidades do mundo estão combatendo a falta d'água


Dois terços da humanidade vive em regiões onde há escassez de água ao menos uma vez por mês, e nossa demanda por água deve aumentar 50% até 2030, segundo a Organização das Nações Unidas.
O Cenário não é dos melhores. Dois terços da humanidade vivem em regiões onde há escassez de água ao menos uma vez por mês, e nossa demanda
 por água deve aumentar 50% até 2030, segundo a Organização das 
Nações Unidas (ONU).
Não é à toa que líderes presentes no Fórum Econômico Mundial no ano 
passado identificaram os recursos hídricos como o principal risco global nesta década.
Esses fatos tornam ainda mais urgente o apelo feito pela ONU hoje, quando
 é celebrado o Dia Mundial da Água.
A organização convocou governos, empresas e cidadãos a combater o desperdício e promover o reuso, inclusive daquela que hoje vai parar no
 esgoto sem qualquer tratamento.
A BBC Brasil identificou cinco iniciativas que buscam solucionar problemas de abastecimento. Confira a seguir:

Pequim: Transposição de água


A China está entre os 13 países listados pela ONU com grave falta d'água: 
com 21% da população mundial, o país tem apenas 6% da água potável do planeta.
Cerca de 400 cidades do país enfrentam obstáculos de abastecimento, e
 Pequim é uma delas: com uma população crescente, a capital já consome
 mais água do que tem disponível em seus reservatórios.
Além disso, diversos rios chineses secaram em decorrência de secas prolongadas, crescimento populacional, poluição e expansão industrial.
Para enfrentar a questão, a companhia de água de Pequim está apostando 
em um projeto multibilionário para redirecionar rios, o Projeto de Desvio de
 Água Sul-Norte.
O objetivo é mover bilhões de metros cúbicos de água do sul ao norte (mais árido) anualmente ao longo de uma distância superior à que separa o 
Oiapoque do Chuí (extremos do Brasil), a um custo que deve superar os
 US$ 60 bilhões (R$ 186 bilhões).

Perth (Austrália): Dessalinização

Perth é a "cidade mais seca" entre as metrópoles da Austrália. Segundo a presidente da Western Australia Water Corporation, Sue Murphy, as 
mudanças climáticas ocorreram mais rápido e antes do que era esperado no oeste do país.
"Nas últimas duas décadas, a água de nossos reservatórios foi reduzida para
 um sexto do que havia antes", disse.
A cidade construiu duas grandes estações para remover o sal da água
 coletada no oceano Índico e torná-la potável.
Hoje, Perth obtém metade de sua água potável a partir do mar. Mas os ambientalistas criticam o processo por ser caro e demandar muita energia - 
os moradores sentiram o impacto em suas contas de água, que dobraram de valor nos últimos anos.
A cidade também está fazendo experimentos com o sistema Gnangara, sua maior fonte hídrica subterrânea. Por uma década, Perth injetou nos aquíferos subterrâneos a água que foi usada pela população, já tratada.
A água é filtrada naturalmente pelo solo arenoso e depois extraída para ser consumida pela população ou usada na irrigação agrícola. O teste foi considerado bem-sucedido, e um programa oficial foi estabelecido - sua meta é obter desta forma 7 bilhões de litros por ano.
"Com um clima mais seco, precisamos ser menos dependentes de chuva, 
por isso apoiamos estes projetos", disse Mia Davies, ministra de Água e
 Florestas do Leste da Austrália.
Ao mesmo tempo, houve uma campanha pelo uso racional da água, o que
 fez com que a demanda hoje seja 8% menor do que em 2003, apesar de a população ter crescido mais de 30%.

Nova York: Proteção de mananciais

Uma das maiores cidades do mundo, Nova York iniciou nos anos 1990 um
 amplo programa de proteção aos mananciais de água para prevenir a
 poluição nessas nascentes e, assim, evitar gastos volumosos com
 tratamento ou busca de novas fontes de abastecimento.
O projeto incluiu aquisição de terras pelo governo nas nascentes de água,
 com o objetivo de proteger sua vegetação e garantir que os lençóis freáticos continuassem a ser alimentados; assistência financeira a comunidades 
rurais nessa região em troca de cuidados com o meio ambiente; e mitigação 
da poluição nos mananciais.
Com isso, a cidade conseguiu ampliar em décadas a vida útil de seus mananciais. O programa também envolveu campanhas pela redução do consumo. Dados oficiais apontam que o consumo per capita da cidade era 
de 204,1 galões de água por dia em 1991 e caiu para 125,8 galões/dia em
 2009.

Zaragoza (Espanha): Conscientização e metas

Secas severas nos anos 1990 deixaram milhões de espanhóis 
temporariamente sem água. Mas um relatório da Comissão Europeia aponta
 que o maior problema no país não costuma ser a falta de chuvas, e sim 
"uma cultura de desperdício de água".
A cidade de Zaragoza, no norte, encarou o problema com uma ampla 
campanha de conscientização em escolas, espaços públicos e imprensa 
pelo uso eficiente da água e o estabelecimento de metas de redução de consumo. Dos cerca de 700 mil habitantes, 30 mil se comprometeram formalmente a gastar menos água.
A estratégia incluiu incentivos para a compra de aparelhos domésticos econômicos (chuveiros, vasos sanitários, torneiras e máquinas de lavar
 louça eficientes, cujas vendas aumentaram em 15%); melhoria no uso da 
água em edifícios e espaços públicos, como parques e jardins; e cuidados
 para evitar vazamentos no sistema.
A meta estabelecida em 1997, de cortar o consumo doméstico de água em

 mais de 1 bilhão de litros água em um ano, foi atingida. Antes da campanha,
 diz a Comissão Europeia, apenas um terço das casas de Zaragoza praticava medidas de economia de água; ao final da campanha, eram dois terços. O consumo total caiu mesmo com o aumento no número de habitantes.
"O projeto mostrou que é possível lidar com a falta d'água em um ambiente urbano usando uma abordagem economicamente eficiente, rápida e
 ecológica", disse o 2030 Water Resources Group, consórcio que reúne
 ONGs, governos, ONU e empresas em busca de soluções ao uso da água
 no mundo.

Cidade do Cabo (África do Sul): Guerra ao desperdício

Khayelitsha, a 20 km da Cidade do Cabo, é uma das maiores "townships" 
(como são chamadas as comunidades carentes sul-africanas) do país, com 
450 mil habitantes.
No início dos anos 2000, uma investigação descobriu que cerca de uma 
piscina olímpica era perdida por hora por causa de vazamentos em sua rede
de água.
A principal fonte de desperdício eram os encanamentos domésticos, muitos 
dos quais deficientes e incapazes de resistir alta à pressão de bombeamento
 da água.
Com isso, aumentavam o consumo de água e também a inadimplência, já
 que muitas pessoas não conseguiam pagar as contas mais caras. Além
 disso, a Cidade do Cabo vive sob constante ameaça de falta d'água.
Um projeto-piloto de US$ 700 mil, iniciado em 2001, funcionou em duas
 frentes: a reforma de encanamentos ruins e a redução da pressão da água fornecida ao bairro, para evitar os vazamentos.
Segundo um relatório do governo da Cidade do Cabo, o projeto custou
 menos de US$ 1 milhão e o investimento foi recuperado em menos de seis meses.
Com a iniciativa, aliada a uma campanha de conscientização para evitar desperdícios, Khayelitsha conseguiu economizar 9 milhões de metros
 cúbicos de água por ano, equivalente a US$ 5 milhões, segundo o
 consórcio 2030 Water Resources.

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