A cidade com o pior trânsito da América Latina (e não é São Paulo)
Moradores de Bogotá, na Colômbia, perdem 272 horas por ano presos em congestionamentos
Se você tivesse que adivinhar a cidade com os piores níveis de congestionamento da América Latina, onde as pessoas perdem 272 horas por ano presas no trânsito, diria o quê? Se pensou em São Paulo, está enganado.
Bogotá, a capital da Colômbia, é a cidade com o pior congestionamento da região, de acordo com o Global Traffic Scorecard, ranking elaborado pela consultoria INRIX. Lá, os motoristas passam, em média, 11 dias dentro do carro a cada ano.
Uma pesquisa feita em parceria pelo Ibope e a Rede Nossa São Paulo em setembro de 2018 revelou que o tempo médio de deslocamento dos paulistanos é de 2h43 por dia.
Já o estudo da INRIX, realizado em mais de 200 cidades localizadas em 38 países, coloca Bogotá no terceiro lugar das cidades mais congestionadas e em primeiro lugar no ranking de horas perdidas. Em termos de trânsito, São Paulo vem na quinta posição e o Rio de Janeiro, na sétima.
A lista completa das dez cidades com o pior tráfego de veículos é: Moscou, Istambul, Bogotá, Cidade do México, São Paulo, Londres, Rio de Janeiro, Boston, São Petersburgo e Roma.
"A situação geral de congestionamento tem piorado nos últimos anos, principalmente devido ao crescimento em massa da população e a atividade econômica nas grandes cidades", diz Trevor Reed, um dos autores do estudo.
Na América Latina, somam-se a esse fenômeno global as rápidas taxas de urbanização, a alta percentagem de moradias informais, a topografia e a volatilidade financeira.
Bogotá, a capital da Colômbia, é a cidade com o pior congestionamento da região, de acordo com o Global Traffic Scorecard, ranking elaborado pela consultoria INRIX. Lá, os motoristas passam, em média, 11 dias dentro do carro a cada ano.
Uma pesquisa feita em parceria pelo Ibope e a Rede Nossa São Paulo em setembro de 2018 revelou que o tempo médio de deslocamento dos paulistanos é de 2h43 por dia.
Já o estudo da INRIX, realizado em mais de 200 cidades localizadas em 38 países, coloca Bogotá no terceiro lugar das cidades mais congestionadas e em primeiro lugar no ranking de horas perdidas. Em termos de trânsito, São Paulo vem na quinta posição e o Rio de Janeiro, na sétima.
A lista completa das dez cidades com o pior tráfego de veículos é: Moscou, Istambul, Bogotá, Cidade do México, São Paulo, Londres, Rio de Janeiro, Boston, São Petersburgo e Roma.
"A situação geral de congestionamento tem piorado nos últimos anos, principalmente devido ao crescimento em massa da população e a atividade econômica nas grandes cidades", diz Trevor Reed, um dos autores do estudo.
Na América Latina, somam-se a esse fenômeno global as rápidas taxas de urbanização, a alta percentagem de moradias informais, a topografia e a volatilidade financeira.
Por que Bogotá ficou em terceiro lugar no ranking?
"É o que acontece com cidades que crescem rapidamente com severas limitações geográficas e sem um longo histórico de investimento em transporte público", diz Reed.
Mas o especialista tem uma visão bastante otimista.
"Embora haja congestionamentos severos em Bogotá, seu sistema de ônibus rápidos tornou-se um modelo para melhorar o transporte", pondera.
Ele se refere ao Transmilenio, uma rede de transporte integrada baseada na experiência de Curitiba.
Nesse contexto, apesar de haver quatro cidades latino-americanas no ranking das dez mais congestionadas (Cidade do México, São Paulo e Rio de Janeiro, além de Bogotá), Reed destaca que a região tem implementado políticas inovadoras para enfrentar o desafio da mobilidade urbana, como no caso de Curitiba, Medellín e Bogotá.
"É o que acontece com cidades que crescem rapidamente com severas limitações geográficas e sem um longo histórico de investimento em transporte público", diz Reed.
Mas o especialista tem uma visão bastante otimista.
"Embora haja congestionamentos severos em Bogotá, seu sistema de ônibus rápidos tornou-se um modelo para melhorar o transporte", pondera.
Ele se refere ao Transmilenio, uma rede de transporte integrada baseada na experiência de Curitiba.
Nesse contexto, apesar de haver quatro cidades latino-americanas no ranking das dez mais congestionadas (Cidade do México, São Paulo e Rio de Janeiro, além de Bogotá), Reed destaca que a região tem implementado políticas inovadoras para enfrentar o desafio da mobilidade urbana, como no caso de Curitiba, Medellín e Bogotá.
"O tráfego é o caos"
Essa opinião não é compartilhada por Mario Noriega, um especialista em planejamento urbano, arquiteto, professor visitante nas universidades da Califórnia e Pensilvânia, e gerente da consultoria Mario Noriega & Asociados.
Bogotá é a cidade mais densa da América Latina e a nona cidade mais densa do mundo, explica, e as projeções indicam que a situação vai piorar nos próximos anos.
"O trânsito é um caos e nas últimas duas décadas se tem feito muito pouco (para mudar a situação)", diz.
Tentou-se resolver o problema com o sistema de ônibus Transmilenio, ele explica, mas obras fundamentais que complementariam o sistema, como a Avenida Longitudinal de Occidente e o metrô, nunca foram executadas.
Em 1999, acrescenta, a Agência de Cooperação do Japão recomendou a realização dessas obras, entre outras medidas, mas elas não foram colocadas em prática.
Por que o problema do trânsito não foi resolvido? "Porque há interesses políticos associados a interesses econômicos", diz Noriega.
"Foi medido primeiro se o investidor obteria o uso que ele exigia, quantos andares seu prédio deveria ter, por quanto ele venderia o metro quadrado e a partir disso a cidade foi projetada."
Na sua perspectiva, Bogotá faz um "urbanismo dos anos 20" porque a densidade populacional está aumentando e projetos de arranha-céus em bairros populares que não trazem benefícios econômicos para a população continuam sendo aprovados.
Essa opinião não é compartilhada por Mario Noriega, um especialista em planejamento urbano, arquiteto, professor visitante nas universidades da Califórnia e Pensilvânia, e gerente da consultoria Mario Noriega & Asociados.
Bogotá é a cidade mais densa da América Latina e a nona cidade mais densa do mundo, explica, e as projeções indicam que a situação vai piorar nos próximos anos.
"O trânsito é um caos e nas últimas duas décadas se tem feito muito pouco (para mudar a situação)", diz.
Tentou-se resolver o problema com o sistema de ônibus Transmilenio, ele explica, mas obras fundamentais que complementariam o sistema, como a Avenida Longitudinal de Occidente e o metrô, nunca foram executadas.
Em 1999, acrescenta, a Agência de Cooperação do Japão recomendou a realização dessas obras, entre outras medidas, mas elas não foram colocadas em prática.
Por que o problema do trânsito não foi resolvido? "Porque há interesses políticos associados a interesses econômicos", diz Noriega.
"Foi medido primeiro se o investidor obteria o uso que ele exigia, quantos andares seu prédio deveria ter, por quanto ele venderia o metro quadrado e a partir disso a cidade foi projetada."
Na sua perspectiva, Bogotá faz um "urbanismo dos anos 20" porque a densidade populacional está aumentando e projetos de arranha-céus em bairros populares que não trazem benefícios econômicos para a população continuam sendo aprovados.
"Rodovias não resolvem o engarrafamento"
Outros analistas reconhecem que Bogotá tem sérios problemas de mobilidade, mas dizem que é impressionante que a capital ocupe o terceiro lugar na lista, a frente da Cidade do México e de São Paulo.
"Estou um pouco surpreso por Bogotá estar no topo do ranking", diz Darío Hidalgo, diretor do centro de estudos da Fundación Despacio, que tem como objetivo promover a qualidade de vida nas cidades.
Um fator que - de uma forma ou de outra - pode influenciar é que o estudo INRIX registra apenas o fluxo de motoristas, mas não inclui em sua análise o sistema de transporte público.
E, em Bogotá, apenas 13% das pessoas viajam de carro, explica Hidalgo.
A título de comparação, diz, há cidades com bons sistemas de transporte público no ranking, como Londres, mas que aparecem na lista com altos níveis de congestionamento.
No entanto, isso não significa que não haja necessariamente problemas de mobilidade na capital colombiana.
As causas? Uma falta de ação que se estendeu por muitos anos e não aumentou a oferta de transporte público, nem melhorou os acessos à cidade.
Além disso, à medida que o nível de renda cresce, mais pessoas desejam ter um carro, o que eleva os níveis de congestionamento.
"Bogotá foi líder em mobilidade sustentável no início da década passada, mas ficou um pouco letárgica", diz Darío Hidalgo.
Segundo estudos realizados por ele, o custo do congestionamento, considerando o tempo perdido no trânsito, é da ordem de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) da cidade.
Como o problema pode ser resolvido? "A construção de rodovias não resolve o engarrafamento. A solução é executar os planos que a cidade tem há muito tempo."
Entre eles, construir a primeira linha do metrô (cujo processo está bastante avançado); fazer mais corredores com faixas exclusivas para ônibus do Transmilenio, para que a maior parte da população viaje de forma mais eficiente; e facilitar o acesso por bicicleta, tornando esse meio de transporte mais seguro.
"E mesmo que seja impopular, é preciso cobrar pelo congestionamento, pela poluição, pelo uso o espaço público para estacionar. Isso é o que as cidades de sucesso fizeram na gestão da mobilidade."
Outros analistas reconhecem que Bogotá tem sérios problemas de mobilidade, mas dizem que é impressionante que a capital ocupe o terceiro lugar na lista, a frente da Cidade do México e de São Paulo.
"Estou um pouco surpreso por Bogotá estar no topo do ranking", diz Darío Hidalgo, diretor do centro de estudos da Fundación Despacio, que tem como objetivo promover a qualidade de vida nas cidades.
Um fator que - de uma forma ou de outra - pode influenciar é que o estudo INRIX registra apenas o fluxo de motoristas, mas não inclui em sua análise o sistema de transporte público.
E, em Bogotá, apenas 13% das pessoas viajam de carro, explica Hidalgo.
A título de comparação, diz, há cidades com bons sistemas de transporte público no ranking, como Londres, mas que aparecem na lista com altos níveis de congestionamento.
No entanto, isso não significa que não haja necessariamente problemas de mobilidade na capital colombiana.
As causas? Uma falta de ação que se estendeu por muitos anos e não aumentou a oferta de transporte público, nem melhorou os acessos à cidade.
Além disso, à medida que o nível de renda cresce, mais pessoas desejam ter um carro, o que eleva os níveis de congestionamento.
"Bogotá foi líder em mobilidade sustentável no início da década passada, mas ficou um pouco letárgica", diz Darío Hidalgo.
Segundo estudos realizados por ele, o custo do congestionamento, considerando o tempo perdido no trânsito, é da ordem de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) da cidade.
Como o problema pode ser resolvido? "A construção de rodovias não resolve o engarrafamento. A solução é executar os planos que a cidade tem há muito tempo."
Entre eles, construir a primeira linha do metrô (cujo processo está bastante avançado); fazer mais corredores com faixas exclusivas para ônibus do Transmilenio, para que a maior parte da população viaje de forma mais eficiente; e facilitar o acesso por bicicleta, tornando esse meio de transporte mais seguro.
"E mesmo que seja impopular, é preciso cobrar pelo congestionamento, pela poluição, pelo uso o espaço público para estacionar. Isso é o que as cidades de sucesso fizeram na gestão da mobilidade."
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