Símbolo dos Anos Dourados, Hotel Novo Mundo vai fechar as portas na próxima semana
Estabelecimento, vizinho ao Palácio do Catete e frequentado por Getulio e Pelé, encerrará as atividades no dia 20
RIO — De todas as pessoas ilustres que passaram pelo Hotel Novo Mundo, na esquina da Praia do Flamengo com a Rua Silveira Martins, Antonio Martins Loureiro, o chefe do bar, só não conheceu Getulio Vargas. Desde 1957 na casa, ele foi testemunha do seu auge, quando era ponto de encontro de políticos e também de jogadores de futebol (Pelé era habitué), e também de sua decadência. Resignado, seu Martins é hoje um dos 120 funcionários em aviso prévio por causa do encerramento, na próxima quarta-feira, das atividades do antigo quatro estrelas, revelada por Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO. Quando o último hóspede cruzar o belo hall do edifício eclético, uma parte da história do Rio Antigo também dará adeus.
Localizado estrategicamente na vizinhança do Palácio do Catete, sede maior do poder na época, e de frente para o mar (ainda não havia o Aterro), o hotel foi inaugurado em 1950 para receber delegações da Copa do Mundo. Eram os Anos Dourados, e o Rio a capital federal. Foi lá que Pelé, quando chegou da Copa da Suécia, em 1958, comemorou a taça Jules Rimet. Em 1969, também celebrou no Novo Mundo seu milésimo gol, no Maracanã. Uma placa dourada no hall homenageia o rei do futebol e lembra que, na ocasião do gol histórico, ele estava hospedado na casa.
— Fiquei com a Jules Rimet na mão — conta seu Martins, de 83 anos, que é português e chegou ao país com uma carta para trabalhar no hotel. — Servi políticos como Ademar de Barros, Tancredo Neves, Negrão de Lima, Carlos Lacerda, Mário Soares, Lula e Brizola. O hotel, no seu auge, nos anos 1960 e 70, vivia cheio. Uma orquestra tocava todas as noites, até as 3h, e eu só saía depois do último cliente. Naquela época, tinha até show de strip-tease.
Elegante, seu Martins prefere não contar histórias de bastidor dos famosos:
— De história picante, só o fim do hotel — desconversa.
Os funcionários foram avisados do fim das atividades no dia 3 deste mês e não sabem qual será o destino do endereço. Construído pelos imigrantes espanhóis Gumercindo José e Vitor Fernandes, o Novo Mundo foi vendido pela família Cosac (que fez fortuna no ramo da mineração). O motivo seriam dívidas. Hoje as diárias vão de pouco mais de R$ 200 a cerca de R$ 500 (para as suítes executivas, com vista para o mar), valores considerados baixos.
Alfredo Lopes, presidente da Associação Brasileira de Hotéis do Rio de Janeiro, diz que circula a informação de que o prédio de 12 andares e 230 quartos passará por um retrofit e será transformado em residencial para locação.
— O Rio, para a Olimpíada, dobrou a sua capacidade hoteleira, mas não teve aumento de hóspedes. A isso se alia a crise financeira. Desde os Jogos, 13 hotéis fecharam as portas na cidade — afirma Lopes, lamentando o fato de o prédio não ser tombado.
Ao “RJTV”, da Rede Globo, a direção informou que o Novo Mundo não será mais um hotel a fechar no Rio e que ele passará por uma transição para novos investimentos. O que se sabe é que, a salvo está apenas o par de leões de bronze que “vigiam” a entrada. Os dois são tombados. Além das feras, o historiador e arquiteto Nireu Cavalcanti destaca o ecletismo do prédio:
— Ele tem elementos do art déco, mas já apontava para o modernismo.
Em clima de despedida, seu Martins não esconde o saudosismo:
— O Rio Antigo tinha mais charme. Mas são tempos que não voltam mais.
Post a Comment