Estrela democrata em ascensão, Beto O'Rourke anuncia candidatura à Presidência
Texano carismático vai participar de eleições primárias marcadas por um número farto de candidatos progressistas.
WASHINGTON - Beto O'Rourke, um ex-deputado de 46 anos que foi alçado a estrela do Partido Democrata ao quase se eleger para o Senado pelo conservador estado do Texas no ano passado, anunciou sua pré-candidatura à Presidência dos Estados Unidos. Ele se junta a outros 14 candidatos nas primárias democratas, tendo a seu favor um batalhão especializado em arrecadar doações módicas, carisma e uma mensagem de união nacional e renovação geracional, em eleições primárias marcadas por um número farto de candidatos progressistas.
— Este momento de perigo representa também um momento de oportunidade para este países e para todos que vivemos aqui — afirmou, no lançamento de sua candidatura. — Os desafios que enfrentamos agora, as crises interrelacionadas da nossa economia, da nossa democracia e do nosso clima nunca foram maiores. Ou eles irão acabar conosco, ou então nos darão a maior oportunidade para liberar o que há de melhor nos Estados Unidos.
No entanto, O'Rourke também é conhecido por ter poucas realizações legislativas notáveis, depois de três mandatos na Câmara representando El Paso. E, em primárias até agora marcadas por ideias políticas ambiciosas, como os programas econômicos dos senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren, O’Rourke entra sem uma proposta como marca registrada, que possa servir como pilar fundamental de sua candidatura.
Ao contrário de muitos de seus 14 rivais democratas, O’Rourke até recentemente fez pouco para concorrer à Casa Branca, e não dispõe de uma campanha estruturada. Alguns eleitores e ativistas também se perguntaram se um homem branco é a melhor aposta para este momento democrata, após os resultados favoráveis nas eleições legislativas do ano passado de mulheres e de candidatos que não são brancos.
Com a entrada de O’Rourke, o campo democrata parece estar quase definido para as primárias, 10 meses antes da votação em Iowa, que inaugura a corrida para definir o candidato do partido que enfrentará Donald Trump, candidato à reeleição. O ex-vice-presidente Joe Biden é o único entre os principais pré-candidatos esperados a ainda não ter entrado oficialmente na disputa, e há indicações de que o fará no próximo mês.
Pesquisas iniciais mostram Biden e Sanders no topo. O contraste entre O'Rourke e a dupla, três décadas mais velha, não é nada sutil. A disputa deve ser acirrada especialmente tendo em vista o sucesso que Sanders tem com jovens eleitores, o mesmo público que impulsionou a candidatura de O'Rourke contra o republicano Ted Cruz no Texas.
Concorrentes de O'Rourke há muito observam seus planos com preocupação, reconhecendo que o tipo de campanha que ele fez em 2018, baseada em mobilizações de base e no contato direto com os eleitores, deve funcionar como uma ferramenta poderosa em estados que votam antes dos demais como Iowa e New Hampshire, onde os eleitores anseiam por interação pessoal com os candidatos.
Em 2018, O'Rourke fez questão de visitar cada um dos 254 condados do Texas, tornando sua candidatura ao Senado um tema nacional — o Davi contra o Golias em um estado notoriamente republicano, o que lhe arregimentou o apoio de celebridades diversas como Beyoncé e o cantor de country Willie Nelson.
Sua candidatura é a de um candidato moderadamente progressista, com uma visão favorável à imigração, uma mensagem de unidade nacional e críticas ao muro que Donald Trump sonha construir na fronteira com o México. O´Rourke, de origem irlandesa, fala espanhol fluentemente.
Na eleição para o Senado, o Partido Republicano ficou tão preocupado com a possibilidade de O’Rourke derrotar Cruz que, a duas semanas do pleito, o próprio Donald Trump foi até o Texas, para defender um candidato do qual ele zombara nas primárias republicanas de 2016. No final, O’Rourke ficou a cerca de 200 mil votos da vitória.
Como obstáculos, ele enfrenta a falta de realizações notáveis no Congresso e uma ampla gama de concorrentes, incluindo opções renovadoras, como as senadoras Kamala Harris e Elizabeth Warren, assim como Bernie Sanders, que, apesar de sua idade, foi abraçado com entusiasmo por jovens eleitores nas primárias contra Hillary Clinton em 2016.
Permanece incerto se ele será capaz de expandir a organização franzina de sua campanha e incorporar a ela o tipo de profissional da política que em larga medida ele evitou durante a sua trajetória no Congresso. A preparação para o anúncio oficial de O’Rourke na quinta-feira foi altamente improvisada, com o próprio candidato assumindo várias funções.
No entanto, ele desfruta do apoio de muitos dos assessores do ex-presidente Barack Obama, e há semanas vem se encontrando e conversando por telefone com vários estrategistas democratas, para avaliar seu interesse em trabalhar para ele. As respostas têm sido de incentivo, mas também de relutância para mudar-se para El Paso, onde ele planeja basear as suas operações.
Ao contrário de Obama, que concorreu em um ano em que a guerra do Iraque foi a única questão política a predominar na disputa democrata, O’Rourke busca a Presidência em um momento em que o seu partido tende fortemente para a esquerda. Ele estará sob pressão para detalhar o progressismo às vezes vago que adornou a sua vida pública.
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