Autor de atentado a mesquitas na Nova Zelândia teria feito gesto de 'poder branco' no tribunal
Símbolo feito com uma das mãos é usado por nacionalistas brancos e perfis racistas na internet
Ao comparecer ao tribunal na manhã de sábado, Brenton Tarrant , autor do atentado contra duas mesquitas que deixou ao menos 49 mortos nesta sexta-feira em Christchurch, Nova Zelândia, sorriu e, mesmo algemado, fez um gesto com uma das mãos interpretado como um símbolo de "poder branco".
O símbolo, que parece o mesmo que um tradicional 'O.K.', tem seu uso atribuído a nacionalistas brancos e perfis racistas na internet para sinalizarem uns aos outros.
O uso do gesto por Tarrant se alinha com a abordagem zombeteira e autoconsciente que ele apresentou ao longo de um manifesto racista que publicou antes de realizar o ataque . No documento de 74 páginas, ele desenvolve ideias preconceituosas contra muçulmanos, defende uma identidade branca e oferece informações autobiográficas. Tarrant também afirma que seu objetivo é “criar uma atmosfera de medo” e “incitar a violência” contra imigrantes, dizendo que, para isso, sua estratégia é se valer da cobertura midiática do ataque para propagar as suas ideias.
Alguns trechos do manifesto contêm teorias conspiratórias nacionalistas e ideologias racistas, enquanto outros sugerem a intenção de zombar da grande mídia - no que seria um aceno para uma comunidade on-line de racistas, que gosta de atrair atenção para a subcultura branca nacionalista.
O mesmo manifesto foi enviado por e-mail à primeira-ministra do país, Jacinda Ardern , minutos antes de Tarrant cometer os ataques.
Silêncio no tribunal
Algemado e vestindo roupas brancas de presidiário, o atirador permaneceu calado durante a apresentação na corte, com seu advogado apontado pelo Estado não solicitando nem fiança nem que permanecesse anônimo . O australiano de 28 anos ficará preso sob acusação de assassinato até o próximo dia 5 de abril, quando terá outra audiência no Tribunal Distrital de Christchurch. De acordo com a polícia neozelandesa, o terrorista deverá enfrentar novas acusações quando retornar à corte.
Supremacista branco com ideário de extrema direita, o terrorista transmitiu seu ataque ao vivo pela internet, gerando polêmica sobre o controle de conteúdo violento nas redes sociais. As mortes ocorreram em dois lugares diferentes de Christchurch, a terceira maior cidade do país, com cerca de 390 mil habitantes: a mesquita al-Noor, na Avenida Deans, no Centro, e outra cerca de cinco quilômetros a Leste, no subúrbio de Linwood.
Segundo as autoridades da Nova Zelândia, 41 pessoas morreram na primeira mesquita, sete na outra e uma já no hospital, enquanto muitos feridos, inclusive crianças, permanecem internados, cerca de 20 em estado grave. Os nomes das vítimas não foram divulgados.
— Eu ouvi três tiros rápidos e depois de dez segundos tudo começou de novo. Deve ter sido uma arma automática, porque ninguém pode puxar o gatilho tão rapidamente — disse uma testemunha à agência de notícias AFP. — As pessoas começaram a correr, algumas ficaram cobertas de sangue.
Condenação mundial
O atentado também foi alvo de condenação da comunidade internacional, em especial de países de maioria muçulmana, que classificaram os ataques como resultado de preconceitos racistas e religiosos.
“Atribuo esses crescentes ataques terroristas à atual islamofobia pós-11 de Setembro”, afirmou o premier do Paquistão, Imran Khan, também nas redes sociais. “1,3 bilhão de muçulmanos são culpados coletivamente por qualquer ato de terror.” O premier canadense, Justin Trudeau, disse em comunicado que “o ódio não tem lugar no mundo” e que “todos devem confrontar a islamofobia”.
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